sábado, 17 de novembro de 2007

Chitilim

_ Só tem um caminho até lá?

_ Só! Pelas bordas da escada, nunca pelo meio, pelo meio o caminho é normal e leva para o lugar de sempre.

A escada tinha degraus leves e era fácil de subir. As laterais eram muretas da altura do chão. Chitilim explicava justamente isso: para chegar ao jardim secreto era preciso subir a escada por uma das muretas.

_ Antes do crepúsculo, ouviu? Por que depois o jardim desaparece e as amoras se transformam em formigas gigantes.

Mariana espantou-se, mas em seguida fez cara de coragem e seus olhos ficaram bem pequenos. Ela continuou olhando a escada, decidindo se ia mesmo subir ou não.

_ Antes do crepúsculo!

Chitilim apressou Mariana.

_ Qual é a cor de lá?

Ele riu da pergunta.

_ Não vou responder, se você pode ir até lá e ver você mesma!

Mariana ficou irritada. Precisava de outra pergunta. Uma que ele não pudesse evitar responder. Pensou...pensou...e...

_ O que são amoras?

_ Ora! Amora?... Amora é o feminino de amor. Se você me ama, eu sou Chitilim, o seu amor; se eu te amo, você é Mariana, minha amora.

Chitilim sabia que isso tudo era uma estratégia de Mariana, ela queria ganhar tempo, então retirou do bolso um caleidoscópio e entregou a ela.

_ Segura um instante?

Mariana arregalou os olhos.

_ Então, isso é um instante?

Segurou o caleidoscópio por um dos lados.

_ Nunca pensei que pudesse segurar um instante!

Chitilim arrumou os óculos que estavam meio caídos em seu nariz e fez cara de pensamento.

_ Mas pode! E enquanto conseguir o universo todo caberá em sua mente. O tempo, desde que tudo começou, até quando tudo acabar, caberá na sua cabeça. Enquanto segurar o instante você poderá estar em todos os lugares ao mesmo tempo e ter todas as respostas que procura sem entender nenhuma.

Chitilim queria que o caleidoscópio animasse Mariana.

_ Olhe dentro um instante!

Mariana olhou, e logo depois, impressionada, tirou o objeto dos olhos. Agora tudo o que olhava era como se fosse pelo caleidoscópio.

Ela olhou para o alto da escada e pôde ver a entrada do jardim. Era muito iluminado e possuía milhares de amoreiras.

Fazia muito tempo que Chitilim falava do jardim e de como tudo nele era mais colorido, e como as frutas eram mais doces, e como tudo lá era mais fácil de entender.

No entanto, Mariana evitou acompanhá-lo até as escadas o quanto pôde, mas agora estava lá e sabia o que devia dizer a ele.

_ Chitilim.

Ele estava muito divertido pelos olhos de caleidoscópio. Mas ela se controlou para não rir.

_ Oi?

_ Tem uma coisa que preciso dizer, já faz um tempo, mas estava sem coragem.

_ Fala!

Mariana abaixou a cabeça e algumas lágrimas caíram. Quando ergueu de novo a cabeça já não tinha mais seus olhos de caleidoscópio, Chitilim estava normal e alguns passos para trás. Ele já havia entendido.

O sol começava a se pôr e as cores ficaram todas muito vivas. Era o crepúsculo, o dia estava indo embora. O brilho do jardim ficou mais forte chegando a iluminar até o pé da escada.

_ Você precisa ir Chitilim. Eu não posso mais ver você.

O crepúsculo passou e o jardim desapareceu.

Chitilim nunca se afastou de Mariana e às vezes, quando ela solta os olhos no nada, pensativa, ele é capaz de jurar que ela está olhando para ele. Mas ele não tem certeza, nem coragem de tentar falar com ela.

Na dúvida Chitilim decidiu não envelhecer, e se tornou o próprio envelhecimento.

segunda-feira, 12 de novembro de 2007

A fada do meu botequim

Ela não pode ser triste

porque sabe o que quer,

ela teimou e enfrentou o mundo,

se não é isso que sonha quase toda mulher...


saber que o mundo não é

mas é como se fosse...


ficção e realidade

que são o som que há-de

fazer dançar

a fada do Meu botequim.