quinta-feira, 13 de novembro de 2008
Busca
nascia uma filosofia.
Queria o roxo das flores,
mas tal simplicidade não podia
chegar à altura de tão monumental sabedoria;
perguntava sobre os amores
e ouvia respostas,mas parecia
não serem palavras, apenas ruínas;
tentara também a ilusão
mas tão pouco entenderia
a função da alegoria...
com suas trouxas e dores
mudou-se para as colinas
e salvou-se da peste, das coisas, da vida.
quinta-feira, 9 de outubro de 2008
Caminho do mar
vou pondo fora o que sinto.
Lamento as flores murchas,
carrego comigo as que agüento.
Caminho do mar calmo
vou jogando as pétalas e tormentos,
preenchendo aquele lugar
com o vazio que restar.
Quando tudo estiver cheio
e chegar a hora de expirar
o mar, o caminho e as flores
murchos estarão
pela primeira vez sem dúvida
cheios de todo o vazio que puderem alcançar.
segunda-feira, 26 de maio de 2008
Exposição
me vergava a pele estranha.
É a minha senha a tua unha
que se crava e me arranha.
É a pele estranha que é escrava
dessa luz que compromete,
que aponta e que estraga
o lugar que a protege.
É a palavra que profere,
que, incontida em
seu semblante, se repete;
e ilumina o que prefere:
que desescondida
a minha alma se revele.
quinta-feira, 10 de abril de 2008
A traço vermelho
É um sujeito que sabe desentranhar a poesia que há escondida nas coisas,
nas palavras,
nos gritos,
nos sonhos.
A poesia que há em tudo,
porque a poesia é o éter em que tudo mergulha,
e que tudo penetra.
Ela jaz sepultada entre minérios,
notícias de jornal,
receitas de doces,
página e meia de excelente prosa...
O poeta não tira de si a poesia,
dos seus sentimentos,
dos seus sonhos,
das suas experiências.
Ele é advertido da presença do poema.
Encontra a imagem insólita,
o encontro encantatório dos vocábulos.
Sabe ver
(como se destacado a traço vermelho)
entre a lã grosseira,
aquilo que fia mais fino.
terça-feira, 26 de fevereiro de 2008
17 de fevereiro
Vê no alto do morro
aquele tronco seco?
Ele corta o vento
que assobia toda memória do lugar.
É apenas ar,
mas é que o movimento
permite cantar o tempo
e transportar histórias.
Então vê
no alto do morro
aquele tronco seco...
vê as pedras, os medos
que cortam o vento
e sussurram sílabas e sibilas,
além das memórias de morte e de vida.
Vê o vento no rio
cuspir empolgado a saliva.
Ele é apenas ar,
mas é que o movimento
permite contar o tempo.
terça-feira, 12 de fevereiro de 2008
Ruído
Só posso ouvir-te
se te percebo sem querer (quando pára).
Seduzes meu ouvido
e somes lento.
Como fina linha
aguda perfura
meu tímpano desatento.
Como fina linha
e agulha costura
o límpido pensamento.
Instalado então és inofensivo,
tormento.
És o silêncio,
...
surdo,
a explosão suave da bomba.
És a canção dos mortos.