sexta-feira, 7 de dezembro de 2007

Imemorial

I

É de manhã indo para o trabalho

que me sinto solitário.

É tendo um emprego que percebo

a opacidade irremediável da existência.


Já não sei bem se bebo

café ou conhaque?

Estou dormindo ou acordado?


Não percebo, percebe? se estou embriagado.


O meu problema é ter sido reduzido ao medo da chuva,

de molhar os sapatos,

à viver aprisionado.


A vida será isso?


Pela janela do carro o mundo se afigura a um quadro expressionista,

no qual as formas remetem

a tempos imemoriais

- é dessas formas que esqueço mais!


Sinto o peito de pedra irmanado ao chão.

Já chorou lágrimas de álcool?


Percebe que as nuvens são pontos, pequenos?

Tão próximos!

Já sentiu que poderia tocá-las?

Que seus cabelos podem se confundir com esse mundo de nuvens esfumaçadas?


II

Meu olho de vidro vai pela fumaça,

vê senão entende, o mundo

dessente.


Pelos olhos invento o mundo,

explico tudo o que confundo.

A que, sem fundo, tenho direito.


Julgo o mundo pelos olhos,

um estranho pela porta,

o jardim pela janela.

Jogo com as formas que esqueço.


Vidro e fumaça deforma.

Enquanto lá fora...


Vejo o monumento,

um Imemorial,

uma homenagem ao esquecimento.


Não sei se mereço tanto

por meus de-s-feitos!